domingo, 8 de julho de 2012

O Espetacular Homem-Aranha

          No que se refere a adaptações de histórias em quadrinhos, o termo 'reboot' já não é novidade para a indústria cinematográfica. Contudo, ao envolver um personagem como o Homem-Aranha, o assunto adquire contornos mais densos. Afinal, o último filme da trilogia de Sam Raimi foi lançado há apenas cinco anos. E apesar do deslize no capítulo final, os longas encontraram seu lugar no coração do público e dos fãs. Especialmente Homem-Aranha 2, que destrinchou extremamente bem a essência do personagem e potencializou sua principal característica: ser um herói universal.
          Trazer de volta às telas o personagem principal da Marvel Comics, reiniciando sua jornada, certamente não seria uma tarefa fácil. Contudo, nessa empreitada, O Espetacular Homem-Aranha mostra-se como um recomeço apenas razoável para o 'cabeça de teia'. É indiscutível que o longa apresenta falhas e deixa algumas dúvidas, mas do mesmo modo, faz opções interessantes... como adaptar a versão 'Ultimate' do herói nos quadrinhos.
          Primeiramente, deve-se dizer que tudo foi feito com muito cuidado. Para assinar o roteiro, chamaram James Vanderbilt, do intrigante Zodíaco; e para retocá-lo, contaram com Alvin Sargent, que já havia colaborado nos outros três filmes do Aranha. Contudo, o maior desafio seria nomear alguém à altura de Sam Raimi para ocupar a direção.
          A inesperada e feliz confirmação de Marc Webb para o posto mostrou que o estúdio respeitava tanto o público quanto o personagem. Pois trazer o diretor de (500) Dias Com Ela só poderia significar uma coisa: Os conflitos pessoais de Peter Parker seriam o fator fundamental da trama. Na tela, isso se confirma, fazendo do romance de Peter e Gwen um dos pontos altos do trabalho de Webb. Várias das características de seu excelente primeiro longa repetem-se aqui: Um relacionamento tratado de forma honesta e diálogos que vão facilmente do drama à comédia, banhados por músicas no melhor estilo pop-oitentista que o diretor tanto gosta.
          Como foco de inspiração, tomou-se a linha Ultimate: Universo criado pela Marvel em Setembro de 2000 com o intuito de recontar a história de seus heróis de forma mais crível. Escolha esperta, que seria um grande diferencial em relação à franquia anterior e manteria o herói mais jovem, já que o mesmo ainda encontra-se no colégio.
          Para a felicidade dos fãs, inúmeros são os detalhes que remontam a essa versão: Homem-Aranha de mochila nas costas, vilão no ambiente escolar e uma cumplicidade especial com Tia May, carismática na pele da competente Sally Field. Até mesmo Brian Michael Bendis, escritor da linha Ultimate, foi chamado para opinar.
          Logicamente, há também alguns elementos clássicos. Afinal, para os que cresceram com o desenho dos anos 90, Spider-Man, ver o herói no esgoto é simplesmente sensacinal...
          Porém, infelizmente o longa não está isento de imperfeições... a inexperiência de Webb torna o filme, em alguns momentos, demasiadamente carregado. Sente-se a falta de uma intercalação maior entre drama, ação e comédia, o que foi feito com maestria nos longas de Raimi. Os mais atentos perceberão que algumas cenas cômicas dos clipes promocionais foram cortadas na edição... E isso se explica pelo fato de que simplesmente há muito o que se resolver.
          Webb deve recontar a origem de seus personagens, com o cuidado de desassociá-la, o máximo possível, da versão anterior. Precisa, também, construir os alicerces da nova mitologia do herói: Uma edição do 'Daily Bugle' faz uma pontinha e Osborn, por exemplo, não aparece, mas é citado em vários momentos do longa. No meio de tudo, destacando-se como elemento primordial, ainda tem-se a história dos pais de Peter. Consequentemente, sobra pouco tempo para dar profundidade ao vilão, que acaba genérico, apesar de visualmente impressionante (o Lagarto).
          Ao mexer com a trama dos pais, cria-se um grave problema: eclipsar o papel dos tios. A obsessão de Peter pela verdade de seu passado reduz a importância de Tio Ben, erro gravíssimo, considerando-se que nele se baseia toda a filosofia do herói. Felizmente, para aquietar a angústia de alguns, o mentor de Peter é relembrado ao fim do longa.
          O mistério (dos pais) soa dissonante, pois é algo jamais abordado com relevância nas histórias do personagem, e termina em aberto, privilegiando a sequência ao invés do próprio filme... Assim como algumas amarras de roteiro, que deixam tudo preparado para a continuação. Para os familiarizados com a mitologia do Homem-Aranha, fica claro que o palco está armado para um clássico arco do aracnídeo. Em um filme já extremamente condensado, que possui a difícil e arriscada tarefa de reintroduzir o popular herói, por que não focar apenas na própria história, finalizando-a?
          No campo técnico, ressalta-se também a fraca trilha sonora, que não chega aos pés da anterior. Contudo, vale dizer que a movimentação do escalador de paredes está impecável e vê-lo balançar por uma Nova York mais real é impressionante e assustador. Andrew Garfield faz um trabalho 'ok' no papel protagonista, enquanto Emma Stone esbanja a simpatia de sempre como Gwen Stacy, seu interesse romântico.
            Por fim, O Espetacular Homem-Aranha tem todo potencial para aprender com seus erros e entregar um segundo longa melhor... e também mais completo.


Gostou da crítica? Não concorda com algo que foi dito? Quer acrescentar algo? Deixe um comentário! Sua opinião é fundamental para o desenvolvimento desse Blog!

4 comentários:

  1. Eu gostei bastante do filme, em especial de Andrew Garfield no papel principal, uma vez que Tobey Maguire, apesar de competente não tem o mesmo alcance dramático. Os efeitos visuais estão bem melhores e Emma Stone é uma delícia.
    Gosto muito dos dois primeiros filmes de Sam Raimi, mas não me ofendi em momento algum com essa nova versão. Recomendo!

    Abraços
    Clênio
    www.lennysmind.blogspot.com
    www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. Curti o que tu escreveu. Gostei do filme também, apesar de ter alguns problemas, como apontei na minha crítica.

    Só o melodrama no 3º ato que citei (a separação do casal) achei um pouco forçado e desnecessário, por que fica subentendido que eles voltam depois. Então não vi motivos para separá-los. E essa trama dos pais do Peter me fez sair do cinema da mesma forma que Prometheus: com aquela promessa de que vai ser explorado só nos filmes seguintes. Uma pena.

    Mas, de qualquer forma, é um bom filme.

    Abraço,
    Thomás
    http://brazilianmovieguy.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  3. Clênio,
    Assim como você, não me ofendi com 'O Espetacular Homem-Aranha' e espero não ter passado essa impressão. Gostei bastante do filme, apesar das observações descritas acima. Ainda que não o considere melhor, foi um recomeço à altura do primeiro filme de Raimi, o qual também tem suas imperfeições.

    ResponderExcluir
  4. Estou curiosa para ver Andrew Garfield nesse papel.

    Parabéns pelo blog, já estou seguindo!
    Visite também:
    http://peliculacriativa.blogspot.com.br

    ResponderExcluir

Comentar: