sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O Lobo de Wall Street

"Essa é Ellis Island, pessoal. [Independente de] quem são vocês, de onde vieram... Esta é a terra da oportunidade. Stratton Oakmond é a América!"


          A ascensão e a queda, segundo Martin Scorsese, são elementos de grande fascínio para o público. Não à toa, Os Bons Companheiros (1990) se mostra como um dos mais competentes exemplos cinematográficos dessa dinâmica. Em O Lobo de Wall Street, o diretor claramente retoma tal estrutura narrativa (de ascensão e queda) para contar uma nova história. Em tempos nos quais notícias a respeito de crises econômicas deixaram de ser novidade, Scorsese se baseia novamente em fatos reais, trocando o mafioso Henry Hill pelo corretor da bolsa de Nova York Jordan Belfort.
          Em sua quinta parceria com o diretor, Leonardo DiCaprio entrega mais uma atuação de altíssimo nível. Completam o elenco principal Jonah Hill, que aceitou um salário mínimo do Sindicato de Atores pela oportunidade de trabalhar com Scorsese, e Margot Robbie, que vive a esposa de Belfort. Todos em ótima sintonia com a proposta arriscada do diretor: divertir pelo mau comportamento. O resultado são momentos tão hilários quanto absurdos, caracterizando a mistura de insanidades que é O Lobo de Wall Street.


          No último discurso de Belfort para seus empregados na Stratton Oakmont (trecho que encabeça a postagem), evidencia-se como aquele grupo de corretores não se difere de uma organização mafiosa. Belfort é o poderoso chefão. Alguém que acreditou na terra da oportunidade, mas para quem a oportunidade foi negada. Sendo assim, buscou meios próprios de consegui-la e após se consolidar, foi além: passou a provê-la. 
          Felizmente, Martin Scorsese não faz de seu filme uma lição de moral (Afinal, lá está o agente Patrick Denham pegando o metrô ao fim do longa). Seu foco é explicitar uma realidade tóxica, uma organização que, sob pressão, desmorona-se em seus próprios ideais deturpados de lealdade e nobreza. A construção da confiança, a traição da mesma e as motivações que levaram seus personagens até ali são de grande interesse do diretor; fatores os quais culminam em uma violência que aqui é moral. Sexo e drogas se misturam em cenas ao mesmo tempo cômicas e repulsivas. 
          Tecnicamente, o diretor é esperto ao cortar diálogos com cenas de humor, as quais fornecem uma perspectiva do que está sendo debatido; ou revelar o pensamento de seus personagens. Artifícios que proporcionam dinamismo ao longa e domam o espectador pelos inacreditáveis 179 minutos de projeção. Vale destacar: uma cena, em especial, na qual os protagonistas estão sob um pesado efeito de drogas já nasce antológica.


          Seja um detalhado documentário sobre Bob Dylan, No Direction Home (2005), seja uma carta de amor ao cinema, A Invenção de Hugo Cabret (2011)... É fascinante perceber que, aos 71 anos de idade, Martin Scorsese ainda busca inovar, mesmo em um estilo de cinema que ele mesmo definiu. Resta ao público, ainda atônito pelo que acabou de ver nas últimas três horas, agradecer ao mestre. O Lobo de Wall Street chega aos cinemas como uma experiência única... e devastadora.


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