quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Os Descendentes


          Dramas familiares possuem, inegavelmente, um currículo glorioso na história do cinema. Pode-se perceber, de algum tempo para cá, uma maior intensificação ou, ao menos, divulgação de filmes do gênero. Talvez, por ser esta a era da informação, onde tudo é mais rápido e passageiro, um olhar sobre a família, sobre as relações pessoais... faça-se cada vez mais necessário. São filmes que, assim como seu tempo, mostram-se fragmentados, descontínuos, mas focam-se exatamente em quem tende a não se adaptar a este novo ritmo. 
          Desde novos clássicos como Pequena Miss Sunshine até o recente Minhas Mães e Meu Pai,  que concorreu ao Oscar (de melhor filme) ano passado, tem-se um olhar cada vez mais peculiar sobre o quão disfuncional uma família pode ser. Os Descendentes chega aos cinemas como uma ótima adição a este grupo, mas que peca por não se arriscar um pouco mais.
           No enredo, após receber a notícia de que a mulher está em coma, Matt King, pai e marido ausente, precisará moldar e fortalecer o  relacionamento superficial que tem com Alexandra e Scottie, suas duas filhas.
          A partir de tal fato, começa-se a entender o título do longa. O que está sendo lapidado em cena é justamente o amadurecimento de Matt com suas filhas, ou seja, suas descendentes. Por outro lado observa-se uma inversão de valores, onde o próprio Matt e seus primos tornam-se os descendentes da vez. Pois, por virem de famílias tradicionais, eles acabam herdando um valioso pedaço de terra, que, se vendido, lhes dará uma boa fortuna.
          Retratos de seus antepassados insistem em aparecer na tela, ressaltando este tradicionalismo e evidenciando que: ao mesmo tempo em que precisa melhorar sua postura como pai, King também deve resolver pendências como filho. Contudo, como se isso já não fosse suficiente, o maior problema de Matt será como marido. Percebe-se, em todas essas complicações, de uma forma ou de outra, a relação com a família e como as experiências de Matt em um desses núcleos afeta o outro.
          Alexander Payne, diretor do longa, trabalha muito bem ao interligar tais elos, mas desliza ao direcionar sua trama à uma zona  de segurança. Por mais que algumas cenas consigam surpreender, no fim, tem-se a clássica história de amadurecimento familiar. Nota-se, também, como as filhas se encaixam em certo estereótipo: De um lado, a criança que precisa de um norte. De outro, a adolescente rebelde. Não que isso seja de todo ruim, pois é o que geralmente acontece no caso de pais ausentes. O público tem a oportunidade de ver como Matt se sai ao lidar com esses dois perfis e Payne pode destacar o papel de exemplo que Alex naturalmente assume para a irmã. 
          O Havaí, local onde tudo se passa, mostra-se perfeito para contrastar a falta de direcionamento dos personagens. O diretor, vale dizer, capricha na ambientação e costumes locais. Sem mencionar a trilha sonora havaiana, excelente no balanceamento do drama.
          Vale destacar a excelente atuação e química de George Clooney, o pai, e Shailene Woodley, a filha mais velha. Afinal, as melhores cenas são da dupla. Fora a ótima inserção de Nick Krause interpretando Sid, amigo de Alex, que funciona como alívio cômico, mas tem um grande valor na trama.
Clooney em excelente atuação e a bela Shailene Woodley, aspirante a futura queridinha de Hollywood.

          Portanto, logo se vê que a beleza do filme de Payne não está no todo, mas sim em seus detalhes. Seja na calmaria da música havaiana, seja na corridinha desengonçada de Clooney... o objetivo é ressaltar como os personagens buscam por soluções das quais eles mesmos desconhecem. Assim sendo, Os Descendentes, drama indie da vez, mesmo que, avaliando-se rigorosamente, perca um pouco de seu brilho, merece ser conferido.

 
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