sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

As Aventuras de Pi

"Obrigado, Vishnu (deus hindu), por me apresentar a Cristo"


          De bate-pronto, a primeira coisa a ser dita sobre As Aventuras de Pi é, certamente, a seguinte: O filme representa, de longe, uma das melhores utilizações da tecnologia 3D até aqui. Em 127 minutos de projeção, o chinês Ang Lee alia um incrível deleite visual à uma tocante história de vida, utilizando-se da mesma para discutir difíceis tópicos como crença, fé e religião.
          A delicada relação entre pai e filho - tema recorrente de seus longas - é novamente abordada. Pi, garoto protagonista do longa, cresce em uma Índia que se desenvolve em meio a transformações sociais e transborda diferentes culturas. Diante das constantes mudanças, seu pai lhe impõe uma criação firme, mas valorosa. Mostra-se interessante notar, inclusive por meio dessa relação, como Lee nos proporciona um filme menos carregado, apesar de altamente significativo. Toda a densidade de obras como O Segredo de Brokeback Mountain e Hulk (2003) é suavizada para dar lugar à reflexões essencialmente filosóficas.

          Vale ressaltar, entretanto, que o longa do gigante esmeralda lhe foi de grande proveito, devido à experiência adquirida com o CG (Computer generated): técnica de geração de imagens por computador. Se o herói da Marvel gerava certo incômodo, aqui a tecnologia mostra o quanto evoluiu em dez anos, entregando ao público um tigre-de-bengala que alcança os limites da perfeição. Ang Lee, Bill Westenhofer, supervisor de efeitos visuais, e toda sua equipe entregam, sem sombra de dúvida, um filme tecnicamente irretocável.


           A entrega do estreante Suraj Sharma e a presença imponente de Irrfan Khan constroem um personagem coeso e tocante, que se adapta facilmente à excelente dinâmica do filme. Rapidamente, o mesmo vai da comédia ao drama; da tensão à reflexão, proporcionando uma imersão completa ao espectador.
          Portanto, o ponto alto de As Aventuras de Pi é aliar tamanha potência técnica à uma história de conteúdo relevante. Os animais em profundidade, as cores quentes da Índia e até mesmo o tio assimétrico de Pi preparam, já nos primeiros minutos, o terreno fantasioso que está por vir. É desta forma que Lee busca discutir espiritualidade: de maneira madura, mas aprazível. Afinal, a mensagem do diretor é de tolerância; é de buscar felicidade e paz de espírito independente de religião. Nada mais adequado a um mundo que discrimina e mata por suas crenças; e defende tão cegamente suas convicções.


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2 comentários:

  1. Ótima crítica!!!

    Sem sombra de dúvidas o melhor 3D q eu já vi. E com certeza será um dos melhores filmes de 2013! Quero mto assistir de novo = )

    Bjos!

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  2. Muito boa critica. Lee teve a sensibilidade de captar que para se falar de algo transcendental teria de utilizar métodos "transcendentais". Vou sempre por aqui.

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