domingo, 3 de outubro de 2010

Padilha, Cinema e Política


          Na última sexta-feira, dia primeiro de Outubro, José Padilha, diretor de Tropa de Elite, foi o convidado especial do programa 'Fim de Expediente' da rádio CBN. Durante uma gostosa e divertida conversa, o cineasta abordou não só a continuação de seu filme, que estréia na próxima sexta, mas também assuntos correlatos como o cinema nacional, o papel do Estado e as causas da violência urbana. Tudo isso aliado a um discurso político muito interessante.
          Ouça toda a entrevista, na integra, no link acima.
          Padilha inicia a conversa declarando que, com Tropa de Elite 2, encerra a sua trilogia da violência urbana, composta também por Ônibus 174 e pelo primeiro Tropa de Elite. Essa trilogia, segundo o próprio diretor, aborda essencialmente a ineficiência do Estado, atribuindo ao mesmo a culpa pelos altos índices de violência urbana no país, especialmente no Rio de Janeiro.
"O Estado produz indivíduos violentos. Era sobre isso o Ônibus 174. O Tropa de Elite é a mesma coisa ao contrário: é como o Estado administra mal a política e produz policiais corruptos e violentos."
        
          Para o cineasta, existem tradicionalmente duas visões sobre o tema no Brasil: a da esquerda e a da direita. A primeira associa a violencia à miséria, sendo necessário, portanto, resolver primeiro os problemas sociais. Já a segunda justifica o problema pela falta de uma repressão eficiente. Desse modo o discurso é de prender mais e ter um maior controle. Padilha afirma que os dois lados políticos fracassam, mas concorda, em partes, com a visão esquerdista. No Brasil a violência, de fato, relaciona-se com a a estrutura social e o aparato falho do Estado é responsável por isso.
          No decorrer da entrevista, destacam-se outros ótimos momentos. O diretor: 
  • brincando, sugere o termo "McMilícias", associando a famosa rede de restaurantes ao tema de seu novo filme.
  • chama Nosso Lar, ironicamente, de ficção científica.
  • lamenta, junto aos apresentadores, a escolha de 'Lula, o filho do Brasil' como o filme nacional a tentar o Oscar.
  • confessa ser fã de Fernando Meirelles.
  • defende, com unhas e dentes, a liberdade de imprensa e declara que um filme, pode sim, achincalhar o congresso.
  • afirma que: "A eleição no Brasil é um processo Darwiniano ao contrário." O que ocorre é uma involução.
  • prefere Scorsese a Coppola, Cate Blanchett a Julianne Moore e Fellini a Goddard.
          Padilha revela, no fim da entrevista que seu próximo filme será  "Nunca Antes na História Desse País", o qual conta a história de um país fictício no qual as campanhas são financiadas por meio de acordos espúrios e as pessoas, depois de eleitas, fazem 'caixa 2' para pagar as despesas dessas campanhas e também das próximas. Nesse país fictício é contada a história de um líder de esquerda fictício que vem cheio de ideais, mas ao chegar no poder mostra-se como os outros.
         O apresentador, depois de inúmeras gargalhadas, responde: "por isso eu gosto de ficção"
         Portanto, nota-se que o Brasil tem um excelente cineasta, o qual não tem medo de usar o cinema como instrumento modificador e político e que também se diz apaixonado pela ciência pois, segundo ele, é fundamental estar aberto ao erro e à critica.

Tropa de Elite 2 estreia dia 8 de Outubro nos cinemas. Em breve, a crítica: Fique de olho!

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