sexta-feira, 28 de junho de 2013

Além da Escuridão - Star Trek

"Isso é claramente uma operação militar. É isso o que somos agora? Pois eu pensei que fôssemos exploradores!"
Scotty


          Uma missão de 5 anos que está prestes a se aproximar dos 50. Seja pela atual necessidade de Hollywood em reaproveitar seu passado, seja pela qualidade intrínseca do material, Star Trek retorna aos cinemas, em sua primeira aventura após o recomeço da franquia em 2009. De imediato, vale estabelecer um paralelo com outra recente produção quinquagenária: os filmes de James Bond. Estranha comparação? Nem tanto: assim como o Operação Skyfall de Sam Mendes, Além da Escuridão - Star Trek mostra-se produto do clássico 'adapt to survive', buscando moldar-se ao atual mercado, ao mesmo tempo em que luta para preservar sua essência, apoiando-se, para tal, na auto referência.
          Muitas são as alusões a elementos do cânone de Jornada (até Mudd é citado!). Contudo, aqui, a proposta não é meramente simbólica, mas também fundamental para solidificar o argumento chave da atual fase da série: essa é uma realidade paralela! J.J. Abrams e sua trupe arquitetam uma conexão impecável com um clássico longa do grupo, digna de arrancar lágrimas dos fãs; mas ao mesmo tempo reafirmam o novo ritmo imposto à franquia,  ratificando uma grande frustração dos apaixonados por esse universo: o novo Star Trek é muito mais uma ação no espaço do que, de fato, ficção científica.



Atenção: O texto a seguir contém revelações sobre o personagem de Benedict Cumberbatch, caracterizando-se como spoiler para os conhecedores do cânone. Siga por sua conta e risco... ou pule dois parágrafos.


          Ok, vamos aos fatos: O filme em questão é Jornada nas Estrelas: A Ira de Khan... Sim, John Harrison, o suspeito papel de Benedict Cumberbatch revela-se, no decorrer do longa, como Khan Noonien Singh, o mais clássico dos inimigos de Kirk e companhia. O que, verdade seja dita, não chega a ser uma grande surpresa. Entretanto, a atualização do famoso antagonista, infelizmente, não alcança a mesma glória do personagem interpretado, outrora, pelo saudoso Ricardo Montalbán. A atuação de Cumberbatch é impecável e potencializa com maestria o intelecto refinado de Khan. Destaca-se um breve, porém impressionante duelo verbal entre ele e Spock, quando ambos estão em posição de comando. Contudo, Além da Escuridão é simplesmente frenético demais para que o vilão possa ser devidamente apreciado.
          Primeiramente, deve-se lembrar que o personagem original já havia sido apresentado em Space Seed, episódio da série clássica, tendo, portanto, argumentos compreensíveis para sua futura vingança no longa-metragem. Ali, vê-se claramente a crítica de Gene Roddenberry ao imperialismo característico das guerras do séc. XX, marcado por discursos de superioridade. Khan é construído lentamente e a beleza do personagem transparece em momentos de sutileza. (Como não se lembrar de: "Você já leu Milton, capitão?"). Falta a Além da Escuridão a ficção científica de crítica e reflexão que fez da franquia o que ela é. Aqui, a origem do personagem é apenas citada e o foco restringe-se aos passos de sua vingança.



          Todavia, o paralelo narrativo estabelecido com o filme citado é tão bem feito, que a empolgação de fã fala mais alto na sala de cinema. Além, é claro, de mostrar-se nítida a preocupação dos realizadores com o desenvolvimento dos personagens. Scotty ainda funciona como alívio cômico, mas desta vez o personagem de Simon Pegg tem mais espaço para mostrar porque é tão fundamental como engenheiro da nave. Já Uhura é verdadeiramente uma forte personagem feminina, tendo espaço relevante em momentos significativos da trama e escapando, com louvor, do estereótipo da 'mocinha fragilizada'. Por outro lado, McCoy, desta vez, funciona como um mero artifício de roteiro. Afinal, a participação do médico limita-se a funções específicas, necessárias para o andamento da trama.

Zoe Saldana, Simon Pegg e Karl Urban respectivamente como Uhura, Scotty e McCoy.

          E como não poderia deixar de ser, Kirk e Spock mantêm-se como o eixo principal da aventura. Zachary Quinto, para a alegria de todos, retorna bem - e mais confortável - como o icônico personagem da série. Já Chris Pine, apesar da boa atuação, interpreta um personagem ainda distante daquele imortalizado por William Shatner. Algo compreensível, de certa forma, já que a evolução de Kirk como capitão é o argumento central da trama.
          Toda a filmografia de J.J. Abrams é prova da grande característica do diretor: saber emocionar. J.J. sempre procura o sentimento em meio à ação; e alia isso à uma narrativa de qualidade, recheada de surpresas. Fórmula que comumente eleva seus filmes a um patamar superior. Além da Escuridão não foge à regra. O filme é, inegavelmente, emoção à plena carga. Mostra-se um alívio constatar que Star Trek, após anos de esquecimento e filmes de qualidade discutível, está finalmente bem representada.

Chris Pine e J.J. Abrams, o diretor mais poderoso da galáxia.

          A trilha sonora de Michael Giacchino continua impecável e a Enterprise poucas vezes foi tão bem utilizada. A nave é levada ao limite, sendo testada das maneiras mais inimagináveis possíveis. Vê-la entrar em dobra, com os novos efeitos deste longa, é um momento único para qualquer fã da série.
          Nota-se um grande respeito pelo material original. Provavelmente, novas referências serão encontradas a cada vez que Além da Escuridão for revisto. Ainda assim, há um ligeiro desapontamento ao fim da sessão, pois se percebe que a 'jornada nas estrelas' tão amada e cultuada por seus fiéis seguidores... é outra. Algo, ironicamente, refletido na fala de Scotty, que encabeça esta postagem. Assim como o engenheiro, há uma legião de apaixonados que sempre verá essa tripulação como um grupo de exploradores. Os quais vão audaciosamente onde nenhum homem jamais esteve. Pois procurar, no espaço profundo, novas formas de vida e novas civilizações foi a maneira genial que Roddenberry, criador da série, encontrou para criticar e refletir sobre a nossa própria sociedade. Em suma, a real proposta da verdadeira ficção científica. Existe, é verdade, uma mensagem na forma de agir da Federação. Contudo, ela apenas está lá... Não é intenção dos realizadores aprofundá-la e nem mesmo há tempo para isso.
          Ao verbalizar tal problemática por meio de um personagem, Abrams parece assumir que, de fato, há algo um pouquinho errado ali. No entanto, da mesma forma que, agora, a Enterprise parece livre para adentrar em sua missão de 5 anos; sugere-se que o maior 'quebra-pau' da galáxia está para acontecer. O caminho seguido, só o futuro dirá... Portanto, resta apenas torcer para que o mesmo se alinhe ainda mais à proposta de um outro futuro: o de 50 anos atrás.


Gostou da crítica? Não concorda com alguma colocação? Quer acrescentar algo? Deixe um comentário! Sua opinião é fundamental para o desenvolvimento deste Blog!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentar: