terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Bravura Indômita

"Fogem os ímpios, sem que ninguém os persiga..."
                                                                                                     Provérbios 28:1


          Sob a manifestação dessa frase, inicia-se Bravura Indômita, o mais novo filme dos cultuados irmãos Coen. Vale dizer que o tom profético da passagem bíblica não só introduz o longa, mas também o define de forma fantástica. A visão da dupla para a obra que inspirou o clássico de 1969 carrega em si certo teor de amargura e realismo, transmitindo para o expectador, de forma sensível, mensagens sobre a essência e a formação do ser humano, como também sobre a própria passagem do tempo, sempre traiçoeira. E para os que ainda tem dúvidas: Sim, Bravura Indômita é, inegavelmente, um verdadeiro faroeste, já que o mesmo apresenta inúmeras semelhanças com a primeira versão estrelada, outrora, pelo lendário Jonh Wayne.
         Na trama, a jovem Mattie Ross, de apenas quatorze anos, está atrás do assassino de seu pai, o covarde Tom Chaney. Para finalmente fazer justiça e vê-lo enforcado, a menina contrata o impiedoso xerife Rooster Cogburn. Porém, ela terá que lidar com seu temperamento difícil e sua constante bebedeira. Junto aos dois, também se unirá o Texas Ranger LaBoeuf, o qual tem seus próprios interesses na captura do bandido.
          Assim como descrito no site oficial, "Cada um com sua teimosia e impulsionados por seus próprios códigos morais, esse improvável trio toma um rumo imprevisível quando se vê envolvido em mal e brutalidade, coragem e desilusão, obstinação e amor genuíno". 
          Apesar de não variar muito seus métodos de interpretação, Jeff Bridges está novamente impecável. O ator consegue ser denso sem abandonar a ironia cômica valorizada pelos Coen. Aliás, fora a época, seu personagem mostra-se extremamente similar ao que lhe rendeu o Oscar por Coração Louco, sendo inclusive mais interessante. Todavia, o ator dificilmente será premiado pela segunda vez consecutiva, considerando o páreo duro. Vale ressaltar, também, a atuação de Hailee Steinfeld, que logo conquista o público pela determinação de sua personagem.
          Este longa, assim como muitos filmes de máfia, explora muito bem o pensamento determinista de que o meio molda o comportamento humano. Toda a indiferença e frieza de Rooster são apenas resultado de seu ambiente e de sua época. Porém, para o personagem, são ferramentas vitais à sobrevivência. A vida o fez assim: decadente, rabugento, mas, em compensação, corajoso e bravo.
          A grande sacada do irmãos Coen foi entender que, devido a isso, o coração de Rooster, assim como sua bravura, é indômito. Sendo que nem mesmo a mais meiga e determinada garotinha é capaz de amolecê-lo. Em vários aspectos, ele esteve sempre fugindo e assim continuará, pois é isso... que os ímpios fazem.
          O belíssimo final é, talvez, a única grande diferença, em termos de percurso da história, nas produções que estão a quarenta anos de distância. Entretanto, a mudança complementa tão sutilmente o primeiro... de forma a ser encarada como uma grande homenagem, mesmo não existindo nenhuma relação entre as duas versões. Sem falar que tal mudança se fez necessária para representar por completo a ideologia transmitida pelos Coen. Há os que acusarão a sequência de descompassada, mas assim é o próprio tempo, não é mesmo? Irregular e impreciso, onde um único acontecimento é capaz de definir a vida de alguém para sempre.
          E da mesma forma traiçoeiro, pois assim como o imponente pôster ensina, a punição, meus caros, virá de uma forma... ou de outra.


P.S.: Palmas também para o quesito técnico: Fotografia, figurino, cenários e trilha sonora foram muito bem feitos e casam perfeitamente com a trama.


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2 comentários:

  1. Bela crítica!
    Adorei o filme. Pena que perdi aquela frase inicial por causa de um imprevisto.
    Acho que Haille Steinfeld devia ganhar o Oscar. Achei ela incrível no filme. É uma atriz que devemos ficar de olho.
    Jeff Bridges está demais como sempre.
    mais um ótimo exemplar dos Coen.

    http://brazilianmovieguy.blogspot.com/2011/02/bravura-indomita.html

    Abraço,
    Thomás

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  2. Com certeza vale a pena assistir Bravura Indômita, a atuação de Jeff Bridges está impecável (mas como Coração Louco já lhe rendeu o Oscar no ano passado, acho bem improvável q ele volte a levá-lo nesse ano... até pq Colin Firth e James Franco estão na disputa). Gostei mto da atuação de Hailee Steinfeld e achei o Matt Damon meio apagado. Resumindo, Bravura Indômita presta uma bela homenagem aos fãs do clássico de 1969!

    Ótima crítica!!! Aguardando a crítica de O Discurso do Rei!

    Bjo!
    Thaysa.

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